quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Eu, pessoa com necessidades específicas?



Trago aqui uma re-reflexão de tempos atrás: o mundo é plenamente acessível para mim?

Sou uma pessoa sem deficiência ou não deficiente, de acordo com a terminologia atual. Ainda assim, estive pensando nas dificuldades que tenho no usufruto dos objetos e do espaço ao meu redor. Sou míope e uso óculos desde os sete anos. Já aos onze não conseguia me "virar" sem eles; cinco graus de miopia. Sem óculos, tenho dificuldade em utilizar o computador e sequer posso sair de casa, pois não consigo enxergar carros, semáforos e letreiros de ônibus a menos que estejam bem próximos. Cresci aprendendo a lidar com essa limitação.



#PraCegoVer: desenho de uma pessoa com as pernas bem curtinhas sentada num assento de ônibus, com espaço mínimo para o assento à frente, com os dizeres, em inglês: "This is how bus manufacturers see us", cuja tradução livre poderia ser "É assim que os fabricantes de ônibus acham que somos"





E cresci, mesmo! Tenho 1,87 metro. Nem sou tão alto assim, mas sou alto o suficiente para perceber como o mundo foi feito por e para pessoas um pouco menores que eu. Lavar a louça me causa dor nas costas. Por dois anos morei numa casa cuja porta do banheiro era menor que as outras (por que fazem isso?) e bater a cabeça no batente da porta era algo comum. Utilizo ônibus para ir e vir do trabalho todos os dias. Apenas dois ou três assentos acomodam minhas pernas de modo aceitável. Quando consigo sentar, e o assento não é um desses, sou obrigado e ficar quase em posição fetal, com as pernas bastante dobradas em direção ao corpo.  Há alguns dias, penduraram uma guirlanda um pouco acima da porta do setor aqui no câmpus e, sempre que passo por ela, o sininho tilinta...

Ponderar sobre o que não está adequado para mim tem me ajudado a perceber também o que não é adequado para os outros. Em todos os sentidos, não apenas nas questões arquitetônicas e instrumentais. Como quero ser tratado? Com o que posso contribuir para a comunidade? Como a comunidade pode contribuir comigo? São perguntas que faço e que, aos poucos, vão abrindo minha mente em relação às pessoas com deficiência e outras condições que, infelizmente, colocam-nas em desvantagem hoje.